domingo, 25 de outubro de 2015

trinta e nove semanas e os meus registros.

Não vou separar por dias essa semana, eu não registrei as fotos porque na maioria dos dias fiquei em casa e foi um tanto quanto monótono. De qualquer forma essa semana foi mais emocionalmente difícil. Eu não estava me sentindo ansiosa e agora já existe uma pontinha de "e ai?".
Essa sensação aumentou entre a quinta e a sexta, porque eu comecei a sentir uma cólica chatinha e contrações, não dolorosos mas sentia e enfim, alguns sintomas que podiam indicar um inicio de trabalho de parto, me senti feliz. Avisei para a minha equipe, doula, obstetriz e tudo mais. Mas o Joaquim não veio. Depois desse dia comecei a ficar mais esperançosa por sinais e no final das contas tudo parou. Não senti algo tão forte, só algumas vezes umas contrações de treinamento, vez ou outra uma cólica. Fiquei um tanto quanto desapontada. De repente comecei a sentir um medo por estar chegando as quarenta semanas e nenhum sinal. Procurei sair para me distrair, afinal de nada adiantaria ficar na minha casa pensando e ansiando sentir algo. Na sexta feira a noite fui na casa da minha tia e chegamos em casa as três da manhã, foi muito bom, conversei bastante e me distrai. No sábado, nós acordamos tarde e demos uma arrumada na casa e o Bruno fez uma tattoo. Fui com a minha mãe no shopping para comprar um tênis para o Gabriel, mesmo rápido, é tão cansativo sair de casa. Cheguei em casa, jantamos e tomei um banho, estava sentindo uma cólica fraquinha. Deitei na cama e fui assistir o show dos Los Hermanos que estava passando no Multishow, me distraiu e fiquei pensando que eu poderia estar lá mas não fui por saber que a DPP era basicamente na mesma data. Assisti o filme Eclipse que estava passando na TV. Fomos dormir quase três e meia da manhã. Acordamos com meus pais chamando e já levantei, tomei café da manhã, venho acordando com uma fome de leão. Dei uma arrumada na casa e o Bruno foi jogar bola. Depois comecei a fazer o almoço, assisti TV, nós almoçamos e eu decidi ir deitar. Dormi das três e meia da tarde até as sete. Foram dias para esperar o Joaquim. Cehgamos as quarenta semanas. 

trinta e oito semanas e os meus registros.


Com o intuito de não me esquecer como foram os últimos dias ou semanas do Joaquim na barriga. Todos os dias eu tiro uma foto para registrar o momento que estamos vivendo. Comecei na terça feira, data que completei trinta e oito semanas. 


Terça feira, 13 de outubro de 2015. 


Nós acordamos e o Gabriel não teve aula, tomamos um café da manhã e nos arrumamos para sair, tivemos consulta com o médico do convênio, a ultima consulta finalmente. Nós deixamos o Gabriel com a minha avó, já que o médico sempre demorava demais e nós sempre ficamos lá cerca de duas a três horas (um absurdo, eu sei). Pois bem, a Tainá nos levou até lá e chegamos eram meio dia e quarenta e cinco, nossa consulta estava marcada para a uma e meia da tarde e o médico chegou no consultório que já estava abarrotado de mulheres à duas e meia da tarde, por sorte fomos os primeiros a chegar e consequentemente os primeiros a serem atendidos. Logo que chegou nos chamou, entramos no consultório e ele logo já fez a seguinte pergunta: 
"Boa tarde mãe, tudo bem? Qual a data da ultima menstruação, hmmm, nossa, vamos marcar então?"
E eu olhei para ele e disse: "Nós não vamos marcar nada, será parto normal" 
Ele: "É mãe, não tem como marcar mesmo, os hospitais não marcam mais porque os convênios não aceitam mais. Então eu tenho que levar a minha equipe. De qualquer forma agora temos que deixar a natureza agir!" 
Pelo que eu interpretei dessa fala dele, o que ele iria propor era o valor da equipe dele e a cartinha de consentimento da cesárea estava em cima da mesa. Ou seja, algo super recorrente. Ele sugere marcar a data do parto, logo os hospitais não cobrem, logo ele passa o valor da equipe dele. 
Então ele me pediu uma ultra na semana anterior e eu até tentei marcar no lugar onde ele mesmo pediu que todos os meus exames fossem feitos e com o médico especifico e eu não consegui. Mas de qualquer forma também não estava muito afim de marcar, afinal, não havia nada a ser visto, agora aos quarenta e cinco do segundo tempo. Mesmo porque já havia consultado a Raquel e a Silvia e de fato não havia necessidade. O Dr. me deu uma mega bronca, foi um estupido e disse que eu estava colocando a vida do meu filho em risco e deveria ter marcado em algum outro lugar o exame que ele mandou que eu fizesse. Pois bem, eu disse que agora não adiantaria nada ele me dar uma bronca né, afinal não mudaria nada. E disse que de qualquer forma o bebê estava mexendo e nós já havíamos ouvido seu coração e feito os ultra ao longo da gestação. Ele retrucou e disse que não daria para saber a vitalidade do bebê dessa forma e novamente me disse que sou irresponsável.
Então ele levantou da mesa e disse assim: "Vamos lá dentro e faremos o exame de toque, mediremos sua pressão e vamos ouvir o coração do bebê" e eu fingi que não era comigo e entrei nada sala e ele então me pediu para tirar a parte de baixo da roupa e deitar na cama. E eu respondi que não faria exame de toque. 

E ele me fuzilou com os olhos e disse: "Como assim? você virou médica agora?" e riu da minha cara.

Retruquei ele: "Pelo que eu sei o exame de toque só tem necessidade, se tiver, durante o trabalho de parto, se eu não estou em trabalho de parto, qual a necessidade de fazer o exame de toque? não sou médica mas tenho todo o direito de me negar a fazer o exame, correto?" 
E então ele me olhou com desprezo e novamente me disse que eu estava colocando a vida do meu filho em risco, disse que respeitaria a minha vontade de não fazer o exame de toque mas que era responsabilidade minha e que ele a partir dali não me atenderia mais. Deitei na cama e ele colocou o aparelho de ouvir o coração do bebê na minha barriga e ao invés de buscar o coração do bebê, ele simplesmente deixou o o aparelho no mesmo lugar onde não se ouvia absolutamente NADA, só uns barulhos da minha barriga mesmo. Com certeza ele diria que não estava ouvindo o coração e consequentemente me responsabilizaria novamente por algo, porém, o nosso filhote trolou o Dr. e então deu um chute e virou e então ouvimos o coração super batendo felizão. Olhei para o Bruno e xinguei mentalmente aquele médico medíocre. Ele mediu a minha pressão três vezes seguida para me machucar, media até doer e soltava. Fiquei quieta só observando. Nós já tínhamos ideia que peitar o médico seria foda e poderia ter consequências como estas mas eu não imaginei que o cara poderia ser tão infantil a ponto de tratar a gente daquela forma. Novamente o médico disse que nós eramos irresponsáveis e se ele fosse o pai do bebê, não seria negligente dessa forma. Pediu o nome e o RG do Bruno e anotou lá que me neguei a fazer o exame de toque. Ele repetiu que não me atenderia mais e disse que a partir de agora, qualquer problema eu deveria ir ao hospital e que ele não faria mais nada por mim.  Pedi então que ele me desse logo o atestado de licença maternidade e me levantei para sair. Ele levantou e disse que só pensava no melhor para todos nós e ainda por cima me chamou de mãezinha e me sugeriu não sair mais de casa e não ter relações sexuais (porque pronto para cesárea nós estávamos mas para transar e por ventura isso influenciar em um inicio de trabalho de parto NÃO!). Sai daquele consultório com muito mais ódio de médico do que quando comecei o pré natal. Eu já não curtia muito médico e hoje a minha visão deles é pior ainda (lembrando que estou falando de obstetras do convênio). São manipuladores e não te orientam em nada referente a chegada de um bebê, absolutamente nada. O pré natal é RIDÍCULO. Imagina uma pessoa sem nenhuma informação? Pois bem, estamos livres e mesmo tendo passado muito nervoso, saí de lá tremendo de ódio pois me segurei para não vomitar nele tudo que ele fez a gente passar durante o pré natal mas me poupei e refleti, nem isso ele merecia. Olhei aquela sala lotada e assim que saí da sala todo mundo ficou olhando para gente, deveria estar estampado na minha cara o ódio,a raiva, o desespero, enfim... Fomos embora! Chegamos na nossa casa as quatro e quinze da tarde. Um dia perdido!
De qualquer forma tiramos uma foto do dia feliz que era a ultima consulta com o GO fofinho!
 

Assistimos um filme legal chamado Sem Limites, muito bom porque eu não dormi hahahaha conseguiu prender a minha atenção até o fim.

 
Quarta feira, 14 de outubro de 2015.

Nós acordamos super cedo e fomos fazer exames de sangue. Eu e o Gabriel. Finalmente o ultimo exame do pré natal. O GO fofinho não havia me pedido aquele exame que tiramos o sangue e depois tomamos aquele liquido super doce e depois de duas horas de repouso e tiramos sangue novamente, a Silvia e a Raquel preferiram pedir o exame por precaução. Nós andamos de ônibus para alegria do Gabriel e ele não chorou para tirar sangue. O Bruno trouxe ele para casa assim que terminou o exame dele afinal o meu demoraria no minimo duas horas. Fiquei lá, não encontrava posição para sentar ou deitar na poltrona, foi difícil mas no fim dormi lá, toda torta. Quando acabou, voltei para casa e quando cheguei, tomei café da manhã mas em seguida vomitei tudo que estava no meu estomago e tomei um banho. Fiz o almoço e por fim fiquei deitada com o Gabriel na cama com o ar condicionado ligado porque o calor tava cruel. Quando foi a noite resolvi fazer um bolo de cenoura e ficou muito bom. Minha mãe e a minha irmã vieram aqui e foi quando eu contei para minha mãe que o parto seria domiciliar. Não foi fácil mas era necessário contar para ela. Até para a minha própria tranquilidade.

 


Quinta feira, 15 de outubro de 2015. 

Acordamos, tomamos um café da manhã e comecei a arrumar a minha casa, dia de encontro com a nossa querida doula Raquel. Estava um calor muito grande e a noite foi bem difícil e o dia estava difícil. Nós arrumamos aqui e eu fiz o almoço, a minha irmã não teve aula e o Gabriel resolvemos deixa lo em casa essa semana (já que na segunda feira foi dia de nossa senhora aparecida, feriado e a terça feira ele não teve aula pois emendaram o dia dos professores, na quarta fomos fazer exame, qual o sentido de ir na quinta feira e na sexta feira?) e então todos estavam aqui e ficaram brincando de água na banheira do Joaquim e com o lava rápido que ele ganhou no aniversário dele, foi uma tarde gostosa. A Raquel chegou aqui por volta das três e meia da tarde, é sempre muito bom nossos encontros, conversamos sobre tudo, tudo além do parto é claro. Ela ensinou para o Bruno algumas técnicas de massagem para me ajudar no alivio da dor e nos ensinou a contar as contrações através de um aplicativo e conseguir a identificar o começo do trabalho de parto. Foi bem legal! Ela foi embora aqui de casa quase nove da noite. E o Gabriel já havia dormido e então o Bruno foi comprar Mcdonald's para nós dois. O Gabriel acordou dez minutos antes do Bruno chegar, hahahaha Nós tentamos começar a ver um seriado, porque acho super maneiro casais que tem seriados que assistem juntos, pena que eu não consigo assistir, tentamos ver Braking Bad, legal mas um episódio já tava super ok para mim.

 

Sexta feira, 16 de outubro de 2015.

Nós acordamos e resolvi começar a organizar a casa, deixar tudo no seu devido lugar afinal nós podemos ter a chegada do bebê a qualquer momento. Guardei algumas roupas que eu havia lavado, terminei de montar o carrinho que também havia lavado (nós resolvemos não montar o berço agora, depois que o bebê nascer vamos sentir quando sera necessário montar, afinal, nosso espaço é pequeno). Arrumei as gavetas do Gabriel, tirei do armário as roupas que já não estão mais servindo e também arrumei as roupas do Joaquim, por tamanho. Na parte da tarde, a minha irmã veio para cá e nós almoçamos e tomamos sorvete. E ela terminou de passar algumas fraldas de pano que faltavam e o Bruno ficou brincando de skate com o Gabriel no quintal e ficamos ouvindo musica. Foi bom. De noite nós jantamos e assistimos um filme depois que o Gabriel dormiu. 

 
Sabádo, 17 de outubro de 2015. 

Acordei e comecei a limpar a casa e deixar tudo o mais limpo possível. Como na noite anterior eu senti contrações e cólicas, bateu um leve desespero porque nem tudo estava pronto. Arrumei a mala do bebê, minha mala, exames do pré natal, tudo no esquema. Me senti mais aliviada, Convidei a Jé e a Pati para virem aqui em casa e elas viriam a tarde mas por fim acabaram vindo a noite e a Taina e o Vini também vieram, a Amanda ficou aqui com a gente também. Nós fizemos pizza e foi muito bom ter eles aqui para eu conseguir me distrair. Rimos e conversamos bastante. Quando todos foram embora, eu e o Bruno arrumamos toda a casa (combinamos de todas as noites deixar tudo o mais organizado possível). E enfim, começou o horário de verão, o que não é tão legal assim. Nós assistimos um filme na TV e dormimos.


Domingo, 18 de outubro de 2015.

Acordamos tarde, afinal o horário de verão no primeiro dia muda tudo. A casa estava arrumada e eu acordei com o Gabriel quase onze e meia e nós fomos tomar café da manhã. Terminei de estender umas roupas, coloquei outras para bater na maquina. Fiz o almoço e de tarde assistimos o jogo do Corinthians na TV. Minha irmã veio aqui em casa e nós comemos carolina. E estava friozinho, senti cólicas, dores no quadril e na pélvis (desde trinta semanas eu sinto dores mas cada dia que passa elas se intensificam mais e mais). Dei uma cochilada de uma hora e jantamos sopa que a minha avó fez. 



Segunda feira , 19 de outubro de 2015.

Foi mais um dia difícil de levantar por conta do horário de verão, acordamos as onze da manhã. O Gabriel ficou em casa com a gente pois a noite teríamos um compromisso e minha irmã ficaria com ele, como ele chega sempre muito cansado da escola, dá um certo trabalho, resolvemos deixa-lo em casa e ele ficaria menos cansado e daria menos trabalho.
Tivemos mais uma consulta com a Raquel, nossa obstetriz. Dessa vez a consulta foi aqui na nossa casa e estamos bonitinhos só esperando o Joaquim dar seus sinais de que está pronto para chegar a este mundo. Espero que logo pois já não estou mais tão feliz com a gravidez, já tá cansativo demais. Acredito que ele venha só na semana que vem, teremos lua cheia, teremos as quarenta semanas completas, acredito que esse será o tempo dele vir mas amanhã também teremos uma mudança de lua o que é uma influencia também, de qualquer forma já não aguento mais.
Nós iriamos hoje ao nosso ultimo encontro no Espaço Santosha, seria o encontro com relatos de parto e eu estava muito afim de ir, nos programamos justamente para ir lá mas no fim os planos acabaram mudando e acabamos não indo, fiquei muito chateada porque adoro ouvir relatos de parto e eu estou em casa a duas semanas sem sair daqui a não ser para ir na minha mãe, por exemplo. Hoje seria uma forma de me distrair também, enfim, não fomos. Fechamos mais uma semana e estamos no aguardo :)



 




Você tem medo de que?

Quando eu penso no nascimento do Joaquim, imagino que será maravilhosamente lindo e encantador. Acredito estar fazendo o melhor para nós dois. Para nós quatro.
Quando eu me lembro do nascimento do Gabriel, penso no quão dolorido foi não tê lo. Não estar com ele no meu colo, sentir ele em contato com a minha pele. Mas jurava que tudo aquilo era normal. Eu não pude sofrer, não. Eu tinha que encarar de frente e não podia me levar por aquele sentimento que estava me dominando. Me lembro bem que as pessoas a minha volta diziam que eu era muito forte e eu concordava e sorria. Ninguém sabe exatamente o que eu e o meu marido passamos naqueles quinze dias que o Gabriel esteve numa UTI. Me lembro exatamente da hora que o Bruno entrou no quarto e disse: o bebê ta indo para UTI, ele não ta respirando. Tudo a minha volta ficou um pouco turvo, um pouco vago e o som baixo. A TV estava ligada e eu fiquei imóvel olhando para ela. Lembro da minha mãe, em pânico e lembro de todos saírem de dentro do quarto e eu fiquei sozinha. Pouco depois alguém voltou e disse que o Bruno estava lá com o bebê e que ninguém mais poderia fazer nada. Eles iriam embora e qualquer coisa eu poderia ligar. Foram momentos de solidão completa, foram momentos horríveis. Ninguém nunca vai conseguir entender ou sentir. Me lembro que em algum momento o Bruno voltou e eu perguntei sobre o bebê, ele me mostrou fotos e disse que ele estava lá na incubadora e que assim que fosse possível eu poderia estar lá. Foram quase nove horas sem saber quem era, como estava, como era sentir aquele bebê... Quando a enfermeira entrou no quarto me disse para tentar levantar e eu disse que não conseguia. Ela disse que só depois do banho eu poderia ver meu filho. Tirei forças de dentro de mim e fui me arrastando pela  cama e desci, fui caminhando ao banheiro e tomei banho, tudo com a ajuda do Bruno e da enfermeira. Me ajudaram a colocar uma roupa e nos trouxeram uma cadeira de rodas, fui levada a UTI pra ver meu bebê pela primeira vez após o seu nascimento. Que sentimento louco. Que sensação boa e horrível. Entrar na UTI, colocar a roupa e lavar a mão inúmeras vezes. Quando entramos, meu coração estava acelerado e borboletas no meu estômago, aquela sensação de ansiedade, tinha uma leve tremedeira. Chegamos enfim ao nosso bebê e ele era maravilhoso. Lindo, lindo, lindo. Que dor não poder pega-lo, que dor não poder sentir e carregar em meus braços. Eu nunca consegui escrever sobre esses momentos. Foram os mais difíceis que vivi nessa vida. Quando eu engravidei nunca passou pela minha cabeça que algo desse tipo pudesse acontecer. Nunca.
Eu chorei ao ver ele, não poder fazer nada... Impotência. Tudo isso era muito difícil de se assimilar. Voltamos ao quarto. Não me lembro se conversamos no trajeto até lá, só sei que eu chorei e uma enfermeira disse que se fosse possivel evitar o choro e a tristeza ao lado do bebê, a energia positiva ajudava muito na sua recuperação e ele precisava disso. Foi difícil. Quando chegamos no quarto, deitei na cama e não me lembro como foi aquela noite, aqueles dias, lembro de fatos isolados. O telefone tocou as seis da manhã no nosso quarto e trememos para atender. Solicitaram o pai na UTI. O Bruno foi sozinho mas eu estava lá de alma, junto com ele. Foram momentos de total cumplicidade nossa. Não vou me esquecer jamais do momento que a porta abriu, fechou e ele sentou do meu lado e começou a chorar. E eu comecei a chorar. Nós dois ali abraçados na cama, no escuro e choramos, de soluçar. Eu achei que havíamos perdido o nosso amor, nosso pedacinho, que eu nem tinha sentido direito no colo, que não amamentei, que esteve comigo durante nove meses... Mas na verdade eles só solicitaram a presença de um de nós para que fosse autorizado entubar. Ele não respirava. Eu também não respirava. Nós três, não...
Algumas pessoas vieram nos visitar e era um tanto quanto doloroso, não havia bebê e eu não via sentido das pessoas irem até lá, eu me sentia vazia. Me sentia em outra órbita.
O dia da alta foi desesperador. Eu pensava na distância que nós iríamos ficar. Eu estive com ele dentro de mim durante nove meses e de repente eu estava deixando ele do outro lado da cidade. Que desespero. Eu chorei muito e muito. Que dor. Dor física. Meu coração estava despedaçado. Me lembro de ligar pra minha mãe e só conseguia chorar e dizer que não conseguiria sair de lá. Eu não queria. Nos despedimos do Gabriel separadamente. Que sensação horrível. Eu pedi desculpa por ter feito ele passar por tudo aquilo. Eu nem sabia o porque. Não tinha ideia do porque de tudo aquilo acontecer com a gente e principalmente com ele. Foi o pior dia de todos. Nunca vou conseguir esquecer. Uma senhora na porta da UTI me disse assim: Calma, as coisas vão dar certo. Todas as vezes que você chegar perto dele, diga: Maria, passa na frente. Eu me lembro de apenas uma vez ter dito mas inconscientemente eu falava todas as vezes que via ele. Me agarrei a todas as forças que pudessem existir. Principalmente no nosso amor. Que sempre foi tão grande. Foram dias difíceis que se passaram. Quinze dias. Nós conseguimos, juntos. Juntos estamos.
Quando eu penso que não entrei em trabalho de parto ainda penso muito nesse sentimento guardado. Nesse sofrimento. Esse medo que senti. Talvez o Joaquim esteja sentindo que eu precisava sofrer por isso, chorar por isso, deixar ir embora. Joaquim, talvez a sua vinda seja para ajudar a cicatrizar essa ferida que existe aqui dentro. Todo esse pavor ir embora. Não é a toa que eu sempre repito para o seu pai: Não me deixa esquecer de respirar. Precisamos juntos respirar. Todos nós.
Gabriel, eu juro que fiz o meu melhor como sua mãe e eu tentei de todas as formas te proteger e cuidar. Me desculpa pelas coisas que fizemos você passar. Te amamos tanto que dói.
Joaquim, eu busquei durante a gestação ser alguém melhor para sua chegada. Procurei te dar a melhor recepção desse mundo. Te respeitar. Eu desejo que seja uma chegada linda, tranquila. Você está chegando para trazer a tranquilidade e mais união para nós. Que seja doce a sua chegada. Pode vir meu amor, eu estou pronta!
 
 
 

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Aos poucos vou me despedindo...

Não é um segredo que eu sempre quis ser mãe, mãe de mais de um então, nem se fale... Quando eu engravidei do Gabriel não existiam planos para ele vir ao mundo tão cedo, mas a vida é assim e ele estava a caminho e eu que sempre fui mãe mesmo antes dele estar no meu ventre, fiquei encantada com a gravidez porém tinha muitos e muitos medos. Medo de parto, medo de não saber cuidar, medo de ficar sozinha, medo de matar o bebê, medo de não dar a ele a estrutura familiar que eu tive. Mas aos poucos esses medos foram passando e o Gabriel foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida e tudo que veio junto a ele também, a nossa família, nossa casa e nossa vida. A vida estava linda do jeito que estava e nós como uma família, gostaríamos de ser mais e então adotamos a Mia, nossa gatinha linda. E durante dois anos e três meses a vida se seguiu assim, nós quatro. Sempre foi um desejo muito grande em mim ter o segundinho, sei das dificuldades e dos gastos que mais um membro a família pode trazer, mas desejar não é tentar mas mesmo sem tentar, o Joaquim resolveu vir aumentar a nossa família e nós nos tornamos cinco. Quando a segunda gravidez foi descoberta, muitas coisas estavam prestes a mudar na nossa vida e nós passamos por coisas muito difíceis como mudanças e distância. A gravidez demorou um tanto para começar a ser percebida de fato e eu demorei um tempo para conseguir me visualizar gravida (mas hoje estou me sentindo mais gravida do que nunca, hahaha). 
Entrei em licença maternidade essa semana e agora consigo respirar, parar e refletir sobre tudo o que está prestes a acontecer e mudar na nossa vida. E hoje quando o Bruno foi levar o Gabriel na escola, a professora perguntou como estava o comportamento dele em casa, porque na escola ele estava mais introspectivo que o normal, extremamente tímido e muito quieto. Para nós ele ser tímido não é uma novidade, nós sempre soubemos que ele era uma criança tímida mas que depois que conhece as pessoas se solta. E que ele não gosta muito de muitas pessoas e ficar interagindo por pressão. Porém nós sabemos que com a chegada do bebê algumas coisas podem estar deixando ele mais quieto. O Gabriel esconde os sentimentos dele. Acredito que o fato de estar cada dia mais próxima a chegada do bebê e nós fizemos o chá de bebê, estamos arrumando a casa, lavando as roupinhas e tiramos algumas fotos esse final de semana, pode ser que ele esteja sentindo que perderá o espaço dele, apesar de nós fazermos de tudo para ele participar, falamos do irmão e ele mesmo diz que ama, que vai cuidar e faz o som do choro e diz que vai chorar mais alto. E eu estava achando que ele levaria tudo numa boa mas me parece que não. Essa situação acaba comigo, sinto vontade de chorar e me culpo por ter engravidado e não ter levado em consideração o Gabriel. Sobre não ter pensado em como ele se sentiria e como seria a chegada desse novo bebê. É obvio que não me arrependo de estar gravida, mas me sinto culpada pelos sentimentos que o Gabriel esta tendo que lidar, sei que essa situação é nova e logo ele vai se adaptando, mas me sinto péssima.
Jamais na vida quero que o Gabriel sofra, por achar que foi deixado de lado, por pensar que nós amamos ele menos, pensar que nós estamos substituindo ele. Sofro só de pensar em tudo isso. Hoje resolvi terminar de completar o álbum dele de bebê, estavam faltando algumas fotos e dizeres. Tem tantas fotos, momentos, coisas lindas que sentia e sinto por ele, ta aí um amor sem fim, um amor que não existem palavras para descrever, não existe nada maior do que ele. Como é lindo ver ele crescendo, falando, conversando e aprendendo. Cada dia que passa só consigo ter mais orgulho de nós dois, crescemos juntos e isso é maravilhoso.
O Gabriel pode não imaginar, nem mensurar mas o amor que sinto por ele de fato é imensurável, é intraduzível, é o maior de todos. Quantas vezes eu estava no trabalho e me dava uma saudade muito forte e tinha vontade de chorar e o melhor momento era quando chegava em casa e encontrava ele. Cada beijo, cada abraço, cada vez que ele me chama, cada vez que ele me elogia e tudo que ele faz. Quanto amor, que transborda!
Estou em um estagio da gestação de despedida, despedida de ter um filho único, de ter tranquilidade (um recém nascido demanda muita atenção), despedida da mãe que eu sou, despedida da minha pequena família, despedida da gravidez (sou loucamente apaixonada por mim quando estou gravida), despedida da barrigada, enfim... Não está sendo fácil lidar com todos esses sentimentos e ainda tendo que lidar com a realidade que por vezes tenho que ser racional demais e está tão difícil.
Espero conseguir lidar com todos os sentimentos e tudo que o Gabriel demandar. Também espero conseguir conciliar ser mãe de dois.

Nós já somos cinco (faltou a Mia na foto).