sexta-feira, 19 de junho de 2015

Contextualizando o parto e aonde vamos chegar... (part III)

Quando comecei a pesquisar sobre médicos humanizados para acompanhar meu parto, sabia que eram todos particulares e cobravam o parto e tudo mais. Porém eu não imaginava que eles eram tão caros, tão distantes, mesmo morando em São Paulo, todos eles são fora de mão. Comecei a pesquisar a respeito de valores e tudo mais. Óbvio que pela internet era um valor x, totalmente desatualizado mas acessível pra mim, obvio que não era aquilo, quando descobri os valores, chorei. Chorei de verdade, sofri muito, tive muitos pesadelos com a cesárea. Muita gente quando eu falo a respeito, torce o nariz, da risada e muitas vezes solta uma pérola do tipo: "tanta coisa mais importante para se preocupar, hahaha".
É incrível como grávida é taxada sensível demais, de chata demais, preocupada demais, parece que a gravidez te deixa burra e te torna um ser que é incapaz de pensar ou sentir algo plausível. Enfim, de qualquer forma antes mesmo de saber o valor da consulta, fui com a Taina em um encontro de gestante, na Caza da Vila, na Vila Mariana. Foi muito legal o encontro, me senti acolhida e enfim em um lugar onde as pessoas falam a mesma lingua e não ficam fazendo caretas e revirando os olhos com cada coisa que eu falava. Me senti muito animada e feliz naquele dia. Na noite depois do encontro eu até dormi melhor, hahaha... (Isso ate descobri os valores dos médicos humanizados). 
A esta altura do campeonato após ver os valores dos médicos e com a consulta com o obstetra, cheguei a conclusão que esta seria mais uma gravidez que acabaria na cesárea e estava me sentindo péssima. Como se tivesse perdido a batalha, nadar até aqui e morrer na praia. 
Mas então tive a indicação de uma doula, a Érica, coitada hahahahha ela me ouviu a tarde inteira, contei sobre tudo e pedi uma luz. E ela foi super gente boa, me ouviu e foi muito bom conversar com ela. E chegamos as opções: parto no SUS ou parto domiciliar. Mas por hora ainda estamos estudando todas as possibilidades para que eu não caia na cesárea. 
Para alguns é muito estranho me ver buscando tudo isso, afinal, muitos me conheceram na gravidez do Gabriel e eu defendia a cesárea. Mas veja como o mundo da voltas mesmo. E isso é incrível. Hoje eu não tenho mais medo do parto, nem da dor. Eu quero passar por isso e como quero. Existem experiências que nos fortalecem e essa pra mim é uma delas. Eu não consigo conter a animação para esse parto enfim acontecer, sinto que precisamos passar por tudo isso, a dor que eu sinto pela cesárea desnecessária do Gabriel, saber que por esse bebê posso fazer tudo diferente, é o que mais me move. 
No fim, sei que as coisas vão acontecer da forma que tiverem que ser e espero que seja como sonhei!


quarta-feira, 17 de junho de 2015

Contextualizando o parto e aonde vamos chegar... (part II)

Atenção: Esse texto é continuação deste post, leia ele primeiro :)

Quando eu assisti ao video de um nascimento humanizado e domiciliar, fiquei encantada! Ta curioso para saber qual é?


Relato de parto da Luiza, blog potencial gestante

Bom, a partir daí descobri o filme "O renascimento do parto", um documentário que fala sobre a violência obstétrica no Brasil e o parto humanizado. A maioria das pessoas, assim como eu, não sabem muito a respeito do parto humanizado, principalmente pelos tabus e pelos mitos que estamos naturalizados a ouvir. Infelizmente nascer no Brasil de forma respeitosa, é uma luta contra o sistema. Quando eu e o Bruno assistimos o documentário (a dois anos atrás), chegamos a seguinte conclusão: queremos um parto natural humanizado e de preferencia domiciliar. Mas não estávamos com planos de engravidar logo, queríamos fazer outras coisas antes de ter um novo membro na família. Sim, eu tinha muita vontade de engravidar novamente mas por enquanto não era hora. Virei uma ativista do parto humanizado, sempre leio sobre o assunto, li muitos livros, estudei muito. Amo falar sobre partos. Amo ler relatos de parto. Se quiser ser meu amigo, não sabe sobre o que falar, ta aí o assunto que me move nos últimos tempos. 
Até que chegou o dia que eu descobri a minha segunda gravidez e tudo mudou de foco. Eu estava mais preocupada com outros assuntos. Não estava preocupada com o parto ainda. Confesso que além de falta de vontade, tinham um pouquinho de medo. Afinal era outra gravidez e não estávamos preparados para nada disso, com planos totalmente diferentes para a nossa vida. Fui atrás de um médico do plano de saúde e foi a maior chatisse para encontrar um. Enfim, encontrei um. Achava que meio caminho tava andado. Até que todos meus 'problemas' se tornaram pequenos perto do parto. Me empoderei e fui em uma consulta com o médico com um caderninho cheio de questões. Porque eu até sabia que ele era cesarista mas ainda havia esperança. O dialogo entre nós foi assim:

Eu: preciso fazer algumas perguntas referentes ao parto! Então vamos lá, quais os custos do parto?
Médico: olha eu até faço pelo plano mas é muito pouco e eu tenho a minha equipe que eu confio, tenho meu assistente e meu anestesista. E o valo é x.
Eu: ah entendi, mas veja bem, eu quero o parto natural, sem anestesia. Então qual a necessidade? 
Médico: olha, a gente não pode querer o parto normal porque a gente não sabe, se tudo der certo o parto normal vai acontecer mas caso contrário já estou com a equipe para qualquer emergência e ter que fazer a cesárea. 
Eu: (resolvi ignorar o fato dele ja estar dizendo quase que com certeza o fim de tudo isso).
E você aceita uma doula? 
Médico: olha, humanizar é preciso! Mas ou ela ou eu faço seu parto, não quero ninguém palpitando no meu trabalho. (Quem faz o parto sou eu, o que voce faz é assistir)
Eu: Olha a doula não faz o parto! Ela vai me acompanhar emocionalmente falando, me ajudando a aliviar a dor e tudo mais. Mas você faz o cortezinho? (Não quis dizer epsiotomia, porque médicos não curtem quem sabem demais). 
Médico: Com certeza! O corte é fundamental! Ontem mesmo veio uma paciente aqui e ocorreu laceração e nossa rasgou tudo! (O mais inacreditável é que foi ontem mesmo que tudo isso ocorreu). 
Eu: E quanto tempo você espera?
Médico: olha, até 40 semanas, depois é muito perigoso! Não podemos querer voltar o parto para a era da pedra né? 
 
Depois dessa última declaração, preferi parar de falar! O que eu acho interessante é que esse é um discurso super recorrente e as mulheres estão tao naturalizadas a tudo isso que não existem questionamentos. E esta tudo normatizado. O empoderamento existe justamente para que esse tipo de situação não ocorra! Mas nem todas nós nos empoderamos e nem todas nós temos informação disponível, tem que ir atrás. Mas enfim, no meu caso, eu fiquei arrasada com tudo isso! Já tive muitos pesadelos e não consegui mais pensar em outra coisa. 
Algumas pessoas simplesmente não querem passar pelo parto normal, assim como eu também não quis um dia. Mas todos nós estamos sujeitos a mudança. Esse texto só diz respeito a mim e aos meus sentimentos como mãe e mulher. Não diminui a experiencia de vida de ninguém. 
De qualquer forma, hoje sinto que a minha hora chegou, a minha vez de poder viver o nascimento de um filho de forma mais intensa. Então estou em busca mas já encontrei algumas pedras nesse caminho.

Continua...



terça-feira, 16 de junho de 2015

Contextualizando o parto e aonde vamos chegar... (part I)

Atenção: Se você não está afim de ler como cheguei até o parto humanizado e porque estou em busca do mesmo, não comece a leitura.
Esse post vai ser dividido em três partes...


Quando engravidei do Gabriel, eu tinha dezenove anos e nenhuma experiencia em relação a nada que envolvesse filhos. Quando eu pensava em parto, minhas referencias eram as mesma que a de todas as brasileiras que eu conheço, parto é sinônimo de sofrer, de dor, de quase morrer, pior dor da sua vida. E eu não queria isso para mim, jamais. As pouquíssimas historias de parto que eu conhecia, eram das mulheres da minha família, todas cesareadas. Todas. 
Para mim, naquela época, era muito bom ter um plano de saúde que me permitisse ter meu bebê em qualquer uma das melhores e maiores maternidades de São Paulo, afinal, quer coisa mais chic? Pois é... era esse mesmo o pensamento. E eu obviamente queria muito a cesárea. Não procurei nada sobre parto, eu queria mesmo a cesárea e ai de quem viesse dizer alguma coisa sobre o parto normal, me sentia ofendida. Me lembro de uma vez chegar na consulta de pré natal e perguntar a respeito do parto normal para o médico, um parto normal onde eu pudesse não sentir tanta dor, onde essa dor pudesse ser aliviada e ele foi muito claro: "ah para que passar por isso? faz logo a cesárea, você não vai precisar sofrer!" Gente, quem vai contrariar o cara que faz isso a tanto tempo??? difícil!
A minha cesárea foi agenda para dia três de agosto de dois mil e doze e minha data provável de parto era dia doze de agosto de dois mil e doze. Quando eu dei entrada no hospital, linda, de unha feita, cabelo arrumado, depilada, com todas as coisas do bebê, esperando ansiosamente a sua chegada, estava super feliz. O médico marcou a minha cesárea para uma e meia da tarde, mas esse foi o horário que me levaram para o centro cirúrgico. No caminho o Bruno teve que ir para outro ambiente do hospital colocar uma roupa especial para poder participar e eu fui levada de cadeira de rodas. No meio do caminho a enfermeira falou:"é seu primeiro bebê? que legal. Você esta nervosa?não fique, a anestesia da medo mas da tudo certo no final" e eu falei:"anestesia? tem que ter medo dela? o que acontece?" e ela sem graça, disse: "nada não mãezinha, não se preocupe!". Me deixaram durante quase duas horas sentada na cadeira de rodas esperando a minha sala de cirurgia ser liberada, eu fiquei em uma sala de recuperação, onde varias mulheres ficam após as cesáreas, parecia um monte de morto! Ali naquela sala comecei a pensar que era pra lá que eu ia ser levada depois de tirarem o Gabriel da barriga e ai pensei: "mas para onde vão levar o bebê? quanto tempo vou ficar aqui? acho que vou fugir e esperar o parto normal!". Aí a enfermeira chegou e me levou para o centro cirúrgico, não dava mais pra fugir. O primeiro impacto que tive ao entrar lá foi o frio e a luz. Era bem gelada a sala e eu estava nua, só com aquela roupinha de hospital. E a luz que era forte. A enfermeira me pediu pra subir na maca e ela era bem chatinha, bem fria, bem na má vontade de meu deus. Ligou o radio, era a radio Disney. E ai chegou o anestesista, brincou comigo e disse que ia aplicar a anestesia, e assim foi. Quando todo mundo tava lá e eu só queria saber do Bruno, eu tremia mais que tudo: "reação da anestesia, mãe" disse o anestesista. Mas era uma tremedeira sem igual. O Bruno entrou na sala e eu olhava desesperada para ele e apertava a mão dele, muito, muito e muito. Eu tava apavorada. Me pediam para me acalmar, relaxar, eu já ia ver meu bebê. Durante a cirurgia, os médicos conversaram sobre TUDO o que você pode imaginar. Mas enfim, nasceu o bebê. O bebê veio pra mim e eu olhei aquele meleque todo (o vernix) e tive que dar um beijo. E não sentia aquele amor profundo e louco. Continuava tremendo e sentindo medo (mas tiramos uma fotinho juntos e ela é linda). Eu fiquei com o Gabriel dois segundo no colo. E então levaram ele embora, pesaram, mediram, pediram pro pai tira foto e tchau. O Bruno continuou comigo e terminaram a cirurgia. O Bruno teve que ir embora. Anestesiada tive que passar de uma cama pra outra, as enfermeiras vieram e me rolaram de uma maca para outra no lençol, essa foi uma das piores sensações que eu já tive nessa vida. Fiquei naquela maldita sala de recuperação por duas horas e meia, estava desesperada para ver o Gabriel, não aguentava mais. Mas a maternidade estava lotada e antes do Gabriel mais quarenta bebês haviam nascido naquela manhã/tarde. Quando enfim fui levada ao quarto. O bebê não vinha e então o Bruno foi ver o que estava acontecendo. E então veio a pior noticia de todas: "O Gabriel vai para a UTI. Ele não ta respirando bem!" e sabe quem foi avisar sobre o que estava acontecendo com o meu bebê que estava longe de mim desde as três da tarde? ninguém veio avisar. Nós é que ficamos irritados e preocupados com a demora. Entregaram na mão do meu marido um papel dizendo que meu bebê estava com um desconforto respiratório e então deveria ficar no oxigênio por um tempo. Uma coisa que me deixa intrigada é que eles já tinham um papel pronto, todo informativo com desenhos de bebês em forma de anjinhos, todo explicativo, ou seja, era algo super recorrente. O Gabriel ficou na UTI por quinze dias, ele foi diagnosticado com hipertensão pulmonar, ele foi entubado por oito dias, durante esse tempo nós ficamos indo para o hospital as oito da manhã e chegávamos lá duas horas depois e as quatro da tarde tínhamos que vir embora, afinal nós não tínhamos um carro e dependíamos de outras pessoas para levar e buscar. Ainda bem que essas pessoas maravilhosas existem e nos ajudaram demais. A amamentação só foi liberada depois de nove dias e foi maravilhosa a sensação de ter meu pequeno nos braços e poder amamenta lo mas tudo isso acabou quando ele teve alta e fomos para casa. A amamentação foi um fracasso, afinal, eu estava competindo com o leite artificial que era dado na UTI, sem contar a água com glicose para o bebê ficar quieto (se você duvida, da uma olhadinha aqui) afinal quando nós não estávamos por lá (que era tempo demais, eu sei), eles tinham que fazer o bebê parar de chorar. E eu tirava leite três vezes por dia para deixar no banco de leite que supostamente era dado para o Gabriel, mas tenho ciência que as três vezes que eu tirava leite não eram o suficiente para amamentar. No dia dezoito de agosto de dois mil e doze, o Gabriel respirou um ar não esterilizado de UTI. A causa disso tudo? nasceu antes da hora. A ultra errou, ele não estava com trinta e nove semanas e sim com trinta e sete.  E tudo isso aconteceu. 
Mas para você que acha que a dor da cesárea é inexistente, te digo que não, você vai sofrer muito. Doi muito sim, pra caralho, você perde sua autonomia até para cagar. Para levantar é horrível, para dormir então nem se fale. Demorei uns dois a três meses para conseguir deitar reta na cama, sem apoio para os pés e dois travesseiros. Ou seja tudo que eu quis fugir do parto normal de dor e sofrimento, não foi evitado, foi pior. Sei que não é todo mundo que tem uma história como esta mas a minha experiencia foi muito traumatizante a partir dai, comecei a buscar respostas para tudo, com base cientifica, com base em verdades. Foi então que encontrei o parto humanizado, a partir de um video que eu assiti, que é maravilhoso. Mas continua no próximo post...