quinta-feira, 23 de março de 2017

Devaneios

Quando me tornei mãe, me perdi. Isso é algo muito evidente para mim.
O Gabriel viveu nove meses dentro de mim, que foram suficientes para que eu perdesse toda a minha identidade e toda a minha noção de individualidade. Mas obvio a culpa não é dele, faz parte do processo do meu renascimento. O Joaquim, chegou atropelando tudo e sem pedir permissão. Não me deu chance de enfim descobrir o que eu era e o que estava fazendo.

Filhos transformam a nossa vida num grau que nem imaginamos. E quando eles nascem, nós demoramos muito para nos enxergar, afinal nos dedicamos intensivamente aquele novo ser e ao outro, no caso quando já temos dois filhos. Morre ali naquele instante que o bebê nasce, quem você já foi um dia e no meio do turbilhão que é viver com pequenos bebês a gente tem que lutar para se manter com a mente sã.
Sempre me lembro que um dia li por aí, aquele grito que damos antes do bebê sair por completo, aquele ultimo grito, ardido, doido e forte. É ali que morremos e enfim renascemos, junto com o nosso pequeno bebê, temos que reaprender a ver a vida e viver.
Dizem por aí que o puerpério dura em torno de dois anos. E bem, quando engravidei do Joaquim, o Gabriel tinha 2 anos e 5 meses. Ainda não tinha me reencontrado e logo já mergulhei de novo na intensidade que é a gravidez e a vida com meus filhos.

Eu sou uma pessoa que precisa focar, parar e  me concentrar  mas não consigo fazer isso. Não consigo me encontrar nesse turbilhão que vivo. É muito intenso. A vida não me dá uma brexa, o tempo todo estou correndo contra o tempo, cuidar dos meninos, trabalho e a vida super corrida. Gostaria de poder pausar as coisas para poder viver uma coisa de cada vez. Estou exigindo muito né? 
Me sinto mal por que, muitas vezes gostaria de ter mais tempo para mim, para o meu relacionamento e minhas amizades. Sei que a partir do momento que eu priorizar uma coisa, automaticamente deixo  outra de lado. Sinto muitas vezes uma imensa vontade de sair, sem hora pra voltar, andar de mãos dadas, falar de coisas que não envolvam, criação de filhos, comidas e o crescimento deles. Mesmo tudo isso fazendo parte de quem eu sou hoje, as vezes acho que não tenho mais nada a acrescentar.
São sentimentos confusos. 

Ser mãe de dois filhos exige um esforço tão intenso. Ser mãe do Gabriel também foi bem mais fácil e tranquilo do que ser mãe do Joaquim. E dizem que mães de segunda viagem sabem mais e tem mais facilidade, para mim foi tudo novo e continua sendo. Nenhum filho é igual. 
Joaquim exige atenção constante, ele é extremamente apegado a todos nós mas principalmente a mim e ao pai. Quer colo o tempo todo e que nós estejamos sempre no seu campo de visão. Ele chora bastante, grita e quando não consegue externar ou se expressar, bate com a cabeça no chão e fica horas chorando, sim, é real.
O Gabriel sempre foi mais quieto, pouco reclamava e tudo estava bem. Eu particularmente, não acho normal. O Gabriel nasceu e foi direto para um berçário e em seguida para a UTI, nós não podíamos ficar muito no hospital e o nosso bebê aprendeu na marra a "engolir" o choro, afinal na UTI, ninguém atendia o choro. Quando nós chegamos com ele em casa, mal se ouvia o seu chorinho, era muito baixinho. Ele sempre foi mais distante, não era tão grude comigo, não pedia muito colo e sempre foi independente. 
Já o Joaquim sempre foi atendido, passou o primeiro mês da sua vida, no colo, o tempo todo. Colo e peito e muita musica. Achei que jamais sairíamos desse ciclo. De qualquer forma, relaciono muito esses dois momentos que vivi com meus filhos, acho que tem tudo a ver. Fizemos cama compartilhada enquanto ele mamou, alias, ele mamou no peito o que mostra o maior vinculo e por isso um grude comigo também. 

Desde o dia que o Joaquim nasceu, vivo dias no automático. Minha licença maternidade passou num piscar de olhos, estava tão preocupada em conseguir amamentar o Joaquim após meu retorno, que mal percebi o tempo passar. Aproveitei muito para ficar grudada nele, sentindo seu cheiro, aninhando, amamentando e vivendo algo que nunca mais vai voltar. Porém o primeiro ano de vida do Joaquim, mal vi o ano do Gabriel passar, não me dediquei como gostaria, não conseguir ser a mãe que sempre fui. Sempre cansada e também irritada. 

Continuo no processo de descobrir quem sou agora. Quem me tornei e do que gosto. No mais estou tentando viver um dia de cada vez. Não é fácil. Na maioria dos dias o cansaço ganha mas continuo tentando. Esse é mais um daqueles textos que são sobre mim que falam de todos os sentimentos loucos e os devaneios da vida.