sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Como ter um parto domiciliar? (parte I)

A segunda gravidez foi uma loucura e uma delicia. Foram semanas de muita incerteza mas que enfim deram lugar a semanas de muita tranquilidade. Hoje estamos mais próximos do que nunca do parto e não é algo que me assusta. Isso é incrível! E gostaria de registrar algumas coisas. 
Quando descobri a segunda gravidez, nós estávamos planejando nos mudar para o EUA. O nosso dinheiro já havia sido investido nisso e o pré natal seguiria até certa data aqui no Brasil e logo em seguida nós continuaríamos o pré natal por lá e o parto também. O Bruno foi para lá no dia 26 de março de 2015 e nós quatro (Eu, Gabriel, Mia e a sementinha) ficamos no Brasil. O plano era o Bruno deixar as coisas por lá o mais organizado possível e nós iriamos em dois a quatro meses. Mas algumas coisas foram acontecendo e meus planos foram mudando. A vida não estava seguindo o plano que tracei que seria o melhor e comecei a rever a situação de sair do Brasil. Em maio foi as minhas férias e  passei oito dias na cidade de Boston, junto com o Bruno. Foi uma viajem muito boa, fiz o enxoval do bebê por lá, passeamos e por fim me decidi que lá não era o lugar que eu gostaria de ir com a minha família. Optei por ficar no Brasil e o Bruno voltaria após cinco meses por lá. O pré natal foi praticamente todo pelo convenio. Não foi fácil. Todas as vezes que eu precisei ir no médico era uma tortura, eu não conseguia sentir empatia por ele.
Quando estava no começo da gravidez, cheguei a entrar em contato com uma doula do espaço GAMA, marcamos duas vezes de nos encontrar e não deu certo. Tive aquilo como um sinal de que não era para ser com ela. Quando estava com dezenove semanas descobri uma médica humanizada Dra Betina Bittar e cheguei a ir em uma roda de gestantes na Caza da Vila, foi muito bom, me senti acolhida, que delicia estar no meio de pessoas que pensam como você. Cheguei a marcar uma consulta com a Dra mas o valor da consulta era totalmente fora da minha realidade e não tinha como pagar a consulta e provavelmente nem o parto. Voltei a estaca zero novamente. Foi então que me indicaram uma doula, a Érica. Ela foi um amor comigo, veio na minha casa e conversamos muito, ela acendeu novamente em mim a chama do parto domiciliar mas era algo muito distante para mim. Ela seria então a minha doula. Tentei ver o parto no SUS mas não me sentia segura. Optamos então por ir para o plantonista do hospital, o mais tarde que conseguisse. Mas mesmo assim a Érica buscou em grupos no facebook por uma Enfermeira Obstétrica que pudessem assistir meu parto.
Descobrimos também que havia rodas de gestantes aqui na minha cidade. Por fim entrei em contato com uma das enfermeiras obstétricas que ela encontrou no grupo do facebook, a Silvia, que foi super solicita comigo, me add no whats e aguentou um milhão de perguntas e duvidas. Após a conversa percebi que não teria condições de ter um parto domiciliar. Eram muitos os obstáculos e o dinheiro envolvido, sendo com aquela equipe que eu havia contatado. Mas por fim, desisti da ideia do parto humanizado domiciliar ou mesmo humanizado.
Quando eu e o Bruno conversávamos sobre isso, chorei muito, muito e muito. Sofri demais. Foram muitas noites péssimas, muito sofrimento mesmo. Aquilo me afetou muito e eu tinha muitos pesadelos com o parto, cogitei um parto domiciliar desassistido, um parto em que o bebê nascesse no carro, qualquer coisa que eu conseguisse fugir do hospital, tinha pavor de ter o bebê em qualquer lugar que não fosse a minha casa mas o hospital era o pior deles. A pior parte na busca do parto humanizado é a dificuldade de quem esta a sua volta de entender essa vontade. Eu sou aquela pessoa da família, da cidade, do estado e do planeta, que é do contra. Porque cargas d'água eu quero pagar uma equipe para um parto normal? domiciliar? o que eu tenho na cabeça? A realidade da mulher que busca esse tipo de parto, o humanizado, é a todo momento colocada em cheque, se eu fosse ganhar um centavo cada vez que tive que ME explicar pela MINHA busca. Como é difícil. O apoio foi uma das coisas que mais me fizeram recair diversas vezes. Ninguém quer te apoiar, começa a conversa com aquele jeitinho "conta pra mim, pode confiar" e acaba a conversa com "nossa você é louca, né?" Porque julgamento é o que eu mais precisava não é mesmo? Por fim, após muito sofrimento, decidi ir em busca de uma equipe que bancasse a minha escolha e bati o martelo e junto ao Bruno resolvi ir atrás do meu parto, afinal era meu sonho.
O ano de dois mil e quinze veio para me provar que eu sou capaz, mesmo que aos trancos e barrancos, sou capaz de me colocar em primeiro lugar, de ir atras dos meus sonhos e fazer com que eles se tornem reais.  Não sou ingrata, sei que algumas pessoas me apoiaram mas existem certas pessoas que eu gostaria tanto que tivessem me apoiado, seria fundamental para mim. Mas de qualquer forma... O Bruno e eu decidimos e fomos em busca. Mesmo tendo decido isso, precisava continuar a passar com o médico do convênio. A cada consulta era um estress mas eu ia levando.
O Bruno chegou quando estava completando 31 semanas de gestação. Chegou no dia que fomos fazer uma ultra, foi uma surpresa muito boa. Foi uma felicidade sem fim. Por dias eu achava que era sonho. E foi nesse exato momento que eu cai na real que estava muito mais próximo o parto e que nós ainda não sabíamos o que fazer. Eu entrei em contato com uma médica humanizada que foi indicada pela Silvia e a mesma já não tinha disponibilidade para este ano. Achei que era o fim. Mas decidimos ir na roda de gestantes, no Espaço Santosha e já que o Bruno havia chego, resolvi ir com ele. Foi muito bom, fomos ao encontro, com uma obstetriz, a Raquel, ela conduziu a conversa ao lado de duas doulas da casa, a Raquel e a Nanda. Nós conhecemos alguns casais, todos nós estávamos ali para ouvir sobre os locais ideais para o parto: hospital, casa de parto e domiciliar. Já havia comentado que o fato de eu ter uma cesárea anterior, não sou aceita em casas de parto.
O que é muito ruim, já que não tinha uma equipe particular para seguir a um hospital e ter um parto respeitoso. Sei que é muito difícil para algumas pessoas acreditarem nisso mas o parto normal é praticamente impossível principalmente um parto onde nós tenhamos nossas vontades respeitadas. A cesárea anterior me torna alvo fácil num plantão de hospital para uma nova cesárea. A hipótese de passar por uma cesárea hoje é: apenas se estivermos correndo algum risco de vida, afinal a cesárea serve para isso. Vejo algumas pessoas batendo o pé e dizendo que vivemos uma ditadura do parto normal e eu só queria entender: aonde? Me diga, quantas mulheres você conhece que no ultimo ano tiveram um parto normal? Mesmo pelo SUS... Eu não conheço nenhuma! De qualquer forma, eu sempre soube o que eu queria, desde quando eu assisti o documentário "O renascimento do parto", já havia batido o pé e dito que o próximo bebê nasceria na nossa casa. Lembrando que para cogitar um parto domiciliar, a gestante precisa ter uma gestação saudável e de baixo risco. Era o meu caso mas durante o pré natal qualquer alteração que surgisse o parto domiciliar seria automaticamente descartado. Não estava colocando a minha vida e muito menos a vida do bebê em risco.

*Dividi esse texto em duas partes porque ficou muito longo.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário!