"Quando eu penso nos meus amigos sem filhos, livres como pássaros, o meu primeiro impulso
é dar-lhes uma bucólica pedrada. Eles não chegam no trabalho sem saber que estão sujos de
vômito. Saem toda noite, ou toda noite em que querem sair. Podem mudar de cidade, de
emprego ou de vida com muito mais facilidade. Quando me perguntam se deveriam ter filhos,
ou como é, eu digo que é o máximo e que deveriam fazer isso imediatamente. Sabe aquela
teoria da piscina, que atribuem ao casamento? Aquela em que você entra na água, ela está
gelada, e mesmo assim você diz que está morninha, entrem, entrem, só pra não ser o único
trouxa lá? Com filhos é parecido, mas você não ter a opção de sair da piscina.
é dar-lhes uma bucólica pedrada. Eles não chegam no trabalho sem saber que estão sujos de
vômito. Saem toda noite, ou toda noite em que querem sair. Podem mudar de cidade, de
emprego ou de vida com muito mais facilidade. Quando me perguntam se deveriam ter filhos,
ou como é, eu digo que é o máximo e que deveriam fazer isso imediatamente. Sabe aquela
teoria da piscina, que atribuem ao casamento? Aquela em que você entra na água, ela está
gelada, e mesmo assim você diz que está morninha, entrem, entrem, só pra não ser o único
trouxa lá? Com filhos é parecido, mas você não ter a opção de sair da piscina.
Meus amigos sem filhos, tenho a impressão, acabam se cansando da minha falta de tempo,
dos meus constantes “hoje eu não posso”, ou do fato de que eu sempre tento fazer com que
qualquer evento seja na minha casa, pra não precisar arrumar uma babá. Eles devem achar
que eu estou na lama. E mesmo com tudo isso, eu olho pra minha filha e penso que, se eu
soubesse que seria tão bom, teria tido filhos muito antes. É quase impossível descrever esse
sentimento sem parecer aqueles pais, ou
A primeira coisa que acontece quando você tem um filho é que você ganha uma preocupação
nova, constante e, segundo dizem, vitalícia. Você vai se inquietar a vida inteira, ainda
que os motivos mudem.Uma hora não tomou leite, na outra pediu a chave do carro.
O impressionante é que essa preocupação toda seja um alívio.
nova, constante e, segundo dizem, vitalícia. Você vai se inquietar a vida inteira, ainda
que os motivos mudem.
Sabe aquele holofote que vive em cima de você? Ele vai embora. Ainda que ali pra perto.
Também dá uma sensação de continuidade, de dever cumprido perante os seus ancestrais.
Desde o primeiro ser unicelular até você, existe uma linhagem jamais quebrada de
sobreviventes e reprodutores. Gente que viveu o suficiente pra se reproduzir e ajudar a
cria a sobreviver. E você vai ser o primeiro, em milhares de anos, a quebrar essa corrente?
Sim, a gravidez é um pouco ridícula, como as cartas de amor. Você fica ali falando com a barriga,
pra que a criança se acostume com a sua voz e não só a da mãe, mas se sente como se alguém
tivesse dito “fala com a minha mão”, ou fala com o oitavo passageiro. Afinal,impressionante
que um indivíduo se monte sozinho, dentro de uma barriga, usando alguns elementos
disponíveis ao seu redor. É estranho, mas depois que o alienzinho vem ao mundo, você pode
pegar no colo e chamar de seu.
pra que a criança se acostume com a sua voz e não só a da mãe, mas se sente como se alguém
tivesse dito “fala com a minha mão”, ou fala com o oitavo passageiro. Afinal,impressionante
que um indivíduo se monte sozinho, dentro de uma barriga, usando alguns elementos
disponíveis ao seu redor. É estranho, mas depois que o alienzinho vem ao mundo, você pode
pegar no colo e chamar de seu.
Bom, isso aqui é um papo de pai, então vamos falar de coisas mais práticas (mães, me perdoem).
Você deixa de ser invisível para a mulherada na rua. Em casa, ok, talvez você acabe fazendo parte
da mobília, mas andar na rua com um bebê ou criança pequena causa um fascínio que eu nunca
tinha visto. Sei lá se é biologia evolucionária, se ao parecer um bom pai você passa a ser
geneticamente desejável, e eu digo, é muito divertido. Meu irmão vive pedindo pra eu emprestar
a Lucia pra ele ir ao shopping. Eu digo pra ele ir furar camisinhas, que eu quero sobrinhos.
Sobrinhos são como filhos que você pode devolver quando quiser, só que eles mais aumentam
a vontade de ter filhos que a satisfazem."
Você deixa de ser invisível para a mulherada na rua. Em casa, ok, talvez você acabe fazendo parte
da mobília, mas andar na rua com um bebê ou criança pequena causa um fascínio que eu nunca
tinha visto. Sei lá se é biologia evolucionária, se ao parecer um bom pai você passa a ser
geneticamente desejável, e eu digo, é muito divertido. Meu irmão vive pedindo pra eu emprestar
a Lucia pra ele ir ao shopping. Eu digo pra ele ir furar camisinhas, que eu quero sobrinhos.
Sobrinhos são como filhos que você pode devolver quando quiser, só que eles mais aumentam
a vontade de ter filhos que a satisfazem."
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Renato Kaufmann é pai da Lucia, escritor e autor dos best-sellers Diário de um Grávido e
Como Nascem os Pais, ambos inspirados no blog Diário de Grávido. Aos seus amigos que
já tem filhos, ele costuma dizer: “Pais de todo mundo, zumbi-vos”.
já tem filhos, ele costuma dizer: “Pais de todo mundo, zumbi-vos”.
No fim, eu fico pensando: sim, tem noites em claro – e não são daquelas que você se diverte.
Sim, você chega sujo de vômito nos lugares e só descobre isso tarde demais. Sim, você não
sai o tempo todo. Sim, você nunca mais vai dormir direito. Sim, a sua vida não te pertence. E
sim, você nunca esteve tão feliz."
No fim, eu fico pensando: sim, tem noites em claro – e não são daquelas que você se diverte.
Sim, você chega sujo de vômito nos lugares e só descobre isso tarde demais. Sim, você não
sai o tempo todo. Sim, você nunca mais vai dormir direito. Sim, a sua vida não te pertence. E
sim, você nunca esteve tão feliz."
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